Arcebispo diz que desejo de mudar Dia do Índio para Dia dos Povos Indígenas tem “simbolismo muito forte”
O arcebispo de Manaus, dom Leonardo Ulrich Steiner, criticou o uso da palavra “índio” como uma ofensa. Em entrevista à rádio CBN Nacional nesta quinta-feira (2), dom Leonardo comentou sobre o veto do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao projeto de lei que alterava o nome do Dia do Índio para Dia dos Povos Indígenas. Para Steiner, o desejo de mudar o nome da data comemorativa tem “um simbolismo muito forte”.
O arcebispo afirma que a troca era esperada pelos povos indígenas. “Quando ouvimos assim: ‘você é um índio’, dizer isso para alguém que não é indígena é uma agressividade. E eu senti isso em regiões onde já estive que eu convivi e trabalhei com povos indígenas, e no ônibus eu ouvia essa expressão: ‘ih, lá vão subir os índios’. Quer dizer, um menosprezo”, disse.
O argumento da proposta, de Joênia Wapichana (Rede-RR), única parlamentar indígena do Congresso, é de que “povos indígenas” é termo mais respeitoso e identificado com as comunidades. O governo, por sua vez, diz que “índio” já é consagrado na cultura e, portanto, o projeto não tem interesse público. A comemoração da data é em 19 de abril. O Congresso poderá reverter o veto de Bolsonaro, em análise conjunta da matéria.
Dom Leonardo questionou a forma como é celebrado o Dia dos Povos Indígenas. “Porque se pintam as crianças com algumas cores e acham que com isso se resolveu o problema dos povos indígenas. Não se discute com os alunos nas escolas a questão indígena, a história do Brasil, não se faz ver a matança que houve. Nós já tivemos no Brasil mais de 1 milhão de indígenas, hoje não chega mais a 1 milhão”, criticou.
Na própria capital do Amazonas é possível ver os reflexos da morte de indígenas, diz o arcebispo. “Veja aqui em Manaus. Manaus quer dizer ‘Manaós’, é um povo indígena. Onde eu encontro um Manaós hoje? Eu encontro ainda como descendência já e mistura que houve no passado”, afirmou.