Há 47 minutos
Por Agência Amazonas
Atividades lúdicas permitem a crianças em tratamento maior adaptação ao cotidiano do hospital, o que influencia na recuperação
FOTO: Herick Pereira/Secom e Divulgação/HemoamReislainy Nogueira, de 10 anos, só pensa em uma coisa: desenhar. Parece normal para uma criança na idade dela, mas a aptidão só foi descoberta há pouco tempo, em meio a uma fase difícil: o tratamento contra o câncer.
Entre as sessões de quimioterapia na Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam), ela começou a pintar e não parou mais. Diagnosticada com Leucemia Linfoide Aguda (LLA) há quase um ano, a atividade virou uma distração durante o tratamento.
“Comecei no dia que eu estava muito entediada e resolvi pintar. Meu primeiro desenho foi uma árvore. Eu me inspirei em alguma coisa, veio alguma coisa na cabeça, eu pensei, ‘Vou desenhar’, e desenhei. Quando eu pinto me sinto feliz”, conta.
A mãe, Alzilane Nogueira, lembra a descoberta da pintura. “Depois que ela começou a fazer terapia aqui, ela ficava entediada porque ela não gosta de celular, foi quando ela começou a desenhar e me surpreendeu, porque antes não desenhava. Ela faz tudinho, depois ela fica tranquila, tranquila, não tem tempo ruim pra ela. Ela se distrai com o desenho. Eu, como mãe, percebi que é ótimo para ela durante o tratamento”, avalia.
Reislainy, que quer ser médica e artista no futuro, desenha o que vê e o que sente. Árvores, gramas, céu azul, flores, pessoas, animais, sentimentos. É isso que preenche as telas de pinturas da pequena. “Quando eu estou pintando eu fico feliz, acho lindo, muito bonito”, finalizou.
Auxílio no tratamento
Conforme o psicólogo do Hemoam, Carlos Ramalho, as atividades lúdicas amenizam os efeitos colaterais do tratamento.
“Um aspecto que já é muito afetado numa condição de doença, como a leucemia, é o fato da pessoa estar muito à mercê do cuidado dos outros. Ela precisa ganhar um protagonismo, buscar recursos que lhe tragam bem-estar, e a arte ajuda nesse aspecto. Isso torna o tratamento menos doloroso e angustiante para as crianças”, explicou.
Ainda de acordo com o psicólogo, a arte contribui para tirar um pouco o foco da doença. “Às vezes vêm ansiedade, medo, incertezas, e a arte possibilita que a pessoa se encontre um pouco mais tranquila. É um elemento muito rico, ajuda você a reforçar as conexões, então traz um bem-estar nesse sentido, e sem dúvida nenhuma auxilia muito positivamente no tratamento”, avaliou.
Diagnóstico precoce
– O câncer infantil tem uma data internacionalmente conhecida para alertar a sociedade sobre a importância do diagnóstico precoce: 15 de fevereiro. No Amazonas, o Hemoam é referência no diagnóstico e tratamento de pelo menos 50% dos casos de câncer infantojuvenil atendidos pela rede pública de saúde.
Desde 2017, o Hemoam desenvolve o Programa Diagnóstico Precoce do Câncer Infantil (Leucemia Aguda), que tem como objetivo qualificar profissionais técnicos de Patologia na capital e interior para identificar as células da leucemia a partir de amostras de sangue.
Com isso, houve um aumento do encaminhamento de casos suspeitos, oportunizando, em tempo hábil, o diagnóstico e tratamento dos pacientes, aumentando as chances de cura para essas pessoas.
Para a médica hematologista do Hemoam, Ana Paula Veloso, o diagnóstico de leucemia promove grandes inquietações para a família inteira, mas, quanto mais cedo acontecer, maiores são as chances de cura para a criança.
“Quanto mais precoce a gente conseguir diagnosticar, mais chance a gente tem de uma classificação da leucemia, para definir mais rápido e com mais precisão um tratamento. Quanto mais precoce, mais chance de recuperação também. Normalmente temos, em média, acima de 80% de chance de cura”, explicou.
Dados
Em 2021, 107 novos casos de leucemia foram diagnosticados e tratados no Hemoam. De 2016 a 2021, foram 775 casos diagnosticados no Hemoam, uma média de 129 casos por ano, sendo 61,20% oriundos da capital e 38,80% do interior.
Em crianças, o número de casos de LLA diagnosticados no Hemoam no período de 2016 a 2021 foi de 294, sendo 55 casos em 2021.