A Universidade Federal do Amazonas e a Comunidade Parque das Tribos concluíram a primeira oficina do projeto de extensão “Jornalismo Indígena” nesta sexta-feira (4). Com o tema “Comunicação e Perspectivismo Indígena”, a oficina foi ministrada pela professora do curso de Jornalismo da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC/Ufam), Ivânia Vieira, e pela jornalista da TV Ufam, Renata Lima.
O projeto é realizado pela Ufam em parceria com a comunidade localizada no Tarumã Açu, zona oeste de Manaus
“A proposta é que a comunidade possa amadurecer ideias para o desenvolvimento de uma política de comunicação do Parque das Tribos. E tudo isso foi realizado com muita interação com os residentes do Parque das Tribos. De fato, eles foram protagonistas nessa atividade. Afinal, eles devem ser os protagonistas nas iniciativas de jornalismo e comunicação que pretendem desenvolver”, destaca Renata Lima, uma das facilitadoras da oficina.
O tema da oficina foi desenvolvido em três encontros ao longo do mês de outubro e abordou assuntos e conceitos pertinentes à comunicação e ao jornalismo correlacionados ao cotidiano da comunidade, como o que é notícia; o que é não-notícia; qual a diferença de informação e fofoca; noções de comunicação, comunidade, comum e informação.
A partir dos temas e conceitos apresentados durante a oficina, os indígenas destacaram que a comunicação é uma forma de diálogo, que comunicar é informar algo para alguém. Eles relacionaram aspectos culturais de cada etnia, como as danças, os grafismos, artesanatos, que são formas de expressar suas identidades, histórias e culturas, com a comunicação.
Um dos assuntos que mais repercutiram durante a oficina foi a desinformação. “Fake news não, mentira”, classificou Keila, uma das moradoras durante a discussão do tema. “Se não é verdade, não é digno de ser chamado de notícia”, completou.
Os indígenas propuseram a realização de vídeos sobre a comunidade, relatando suas rotinas, dificuldades e os desafios que a comunidade enfrenta. Sugeriram a produção de um livro com o grafismo indígena para mostrar que não é só uma produção estética, mas uma manifestação de suas culturas e visões de mundo.
“Nossos objetivos nessa primeira atividade são estudar o perspectivismo indígena na comunicação; refletir sobre os atos comunicacionais indígenas; e apoiar iniciativas comunitárias indígenas em comunicação a partir do perspectivismo dos povos indígenas. Dos ensaios, em seus primeiros passos, estão postos como desafio conjunto (FIC/Ufam – Comunidade Parque das Tribos) a construção de uma política de comunicação na e da comunidade, tendo o tecimento de um programa comunitário com suporte nas ideias do bem-viver”, acrescentou a docente Ivânia Vieira.
A professora Ivânia Vieira finaliza: “estamos aprendendo juntas e juntos o que é fazer comunicação, respeitando os perspectivismos indígenas, construídos por eles ao longo de 522 anos de resistência e resiliência a um modelo de desenvolvimento que se caracterizou pelas tentativas de eliminar esses povos e as suas culturas. Foram dias de intenso aprendizado que reafirmam a importância de pensarmos a comunicação amazônica e de percebê-la como um dos instrumentos fundamentais no enfrentamento à comunicação de matriz externa, dominante, autoritária, segregadora.”
Segundo Danielle Delgado Gonçalves, uma das comunitárias, da etnia Baré, “as oficinas têm mostrando como podemos explorar as nossas culturas, mostrar para o mundo quem somos nós e o que a nossa cultura significa para nós. Os participantes têm ficado bastante empolgados com essa oficina de jornalismo indígena, porque podemos ver o quanto podemos ser protagonistas e levar a nossa comunicação para fora da nossa comunidade, então, tenho visto que tem sido de grande valia para nossa comunidade”.
A próxima oficina inicia nesta sexta-feira (11), com o tema “Jornalismo indígena: entrelaçamento de culturas”, e será ministrada pelos jornalistas e professores Mirna Feitoza Pereira, da Faculdade de Informação e Comunicação da Ufam, e Rosário Nogueira e Wilson Nogueira, do Portal de Notícias Amazon Amazônia.
Vinculado ao Programa Institucional de Bolsas de Extensão da Pró-Reitoria de Extensão (PIBEX/Proext/Ufam), o projeto “Jornalismo Indígena” será realizado no Parque das Tribos até julho de 2023.
Sobre o projeto Jornalismo Indígena
Na Ufam, o projeto é liderado pelo Mediação – Grupo de Pesquisa em Comunicação, Complexidade e Culturas, da Faculdade de Informação e Comunicação, com o apoio do Laboratório de Análise e Criação Multimídia da Faculdade de Letras.
A equipe é composta por 15 pessoas, entre lideranças indígenas, professores, estudantes e jornalistas egressos do curso de Jornalismo da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC/Ufam), além de professores e professoras da Faculdade de Letras e Faculdade de Educação e de uma docente e estudantes do curso de Design da Faculdade Martha Falcão.
Créditos:
Reportagem: Milena Monteiro Soares/Jornalismo Indígena/Mediação-Ufam
Fotos: Camila Barbosa Oliveira/Jornalismo Indígena/Mediação-Ufam
Edição de texto: Camila Barbosa Oliveira/Jornalismo Indígena/Mediação-Ufam