A Prefeitura de Manaus desenvolve um trabalho de inclusão por intermédio de classes de ensino regular e de programas especiais que visam desenvolver diversas habilidades de pessoas com deficiência, inclusive com a visual. Os projetos, oferecidos para estudantes da Secretaria Municipal de Educação (Semed), são coordenados pelo Centro Municipal de Educação Especial (CMEE) e pela Escola Municipal de Educação Especial (EMEE) André Vidal de Araújo, localizados na zona Centro-Sul da capital amazonense.
De acordo com os dados de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Amazonas apresenta 124 mil pessoas com algum grau de deficiência visual. Manaus ocupa, proporcionalmente, o terceiro lugar nesse ranking, com 21,4% da população apresentando algum tipo de deficiência. Para atender esse público, a prefeitura realiza várias atividades na rede municipal de ensino, como explica a secretária de educação, professora Dulce Almeida.
“O prefeito David Almeida tem um carinho muito grande por todos os nossos estudantes e contamos com o apoio dele para desenvolvermos programas que possam auxiliar e melhorar a aprendizagem dos alunos da educação especial. Queremos que a inclusão aconteça em toda a rede municipal, mas o nosso maior desejo é que esses alunos tenham também autonomia para as tarefas do dia a dia, e vamos seguir trabalhando para que eles tenham esse suporte”, declarou a secretária.
CMEE
O CMEE André Vidal de Araújo é responsável por realizar avaliações, programas específicos e terapias. Nesse sentido, foi criado em 2021 o Programa de Intervenção Pedagógica aos Estudantes de Deficiência Visual (PIPDV). O programa tem como finalidade atender alunos com deficiência visual de 6 aos 18 anos.
A diretora do CMEE, Reni Formiga, aponta que a criação do PIPDV foi inevitável, uma vez que apenas o assessoramento pedagógico não era suficiente para atender as demandas educacionais dos estudantes nas unidades de ensino regular.
“O sucesso dos alunos era muito pouco devido a não ser algo contínuo. Então, analisando a falta de evolução dos nossos estudantes, resolvi criar o programa para facilitar o desenvolvimento deles. A gente tinha certeza que eles, com uma atenção mais individualizada, e com os próprios professores que são cegos, estimularíamos e elevaríamos a autoestima, e eles teriam um resultado mais satisfatório nas escolas”, acrescentou Reni.
Para atender os 11 estudantes do programa foi montada a equipe com as professoras Fátima Bezerra e Cátia Lemos, o professor Jhon Leno e a responsável pela prática educativa de vida independente, Elizabeth Machado. Um ponto importante desse projeto, é que a única professora que não possui deficiência é a Fátima Bezerra, os demais participantes são deficientes visuais.
Primeira doutora em educação no Amazonas sendo cega, a professora Cátia Lemos, conta que eles realizam esse trabalho desde 2007 como forma de assessoramento.
“Nós trabalhamos com aulas de orientação e mobilidade, que é como utilizar a bengala, aprendizagem do sistema braille, cálculos matemáticos, com o Soroban. Para alunos com baixa visão, trabalhamos com a fonte ampliada, o que eles necessitarem. Temos práticas educativas de vida independente que é como fazer comida, como se organizar, como pentear o cabelo, como se organizar como pessoa cega para que ele possa ter ainda mais autonomia”, explica Cátia.
Além desse trabalho prático, eles também desenvolvem atividades voltadas à tecnologia assistiva, com o professor Jhon Leno. Conforme ele explica, o ramo se divide em tecnologia assistiva de baixo custo e de alto custo.
“A de baixo custo são todas as adaptações que a gente faz com materiais como EVA ou outros recicláveis. A tecnologia de alto custo se subdivide em vários outros tipos de equipamentos, software e sistemas de informação. No caso aqui, a gente trabalha direcionalmente em relação a utilização dos smartphones que são coisas que são muito mais acessíveis através do leitor de tela”, explica Jhon.
Para a estudante Vanessa Nascimento, 12 anos, da Escola Municipal Carolina Perolina, o programa mudou a vida dela, uma vez que apresentava muita dificuldade no quesito aprendizagem em sala de aula, e depois de participar do PIPDV, conheceu novas ferramentas que a ajudam constantemente, não apenas na escola, mas na vida em geral.
“Já aprendi muitas coisas que eu vou usar para a minha vida, tipo sobre o computador, o braille. Sem isso eu não ia conseguir fazer as tarefas direito, não ia conseguir escrever no computador. Antes eu não sabia que existiam essas coisas, como talkback do meu telefone e tinha que deixar o telefone muito próximo do meu rosto para poder saber, então agora não facilitou muito”, finalizou Vanessa.
Escola
A EMEE André Vidal de Araújo trabalha com estudantes do ensino regular na modalidade de educação especial. Para realizar o trabalho, são utilizadas diversas ferramentas como livros em braile, instrumentos utilizados para trabalhar a matemática, geografia, ciência, história, como o Soroban, um ábaco adaptado utilizado para fazer cálculos e que ajuda a trabalhar as quatro operações matemáticas. Além do reglete, que é uma ferramenta usada para escrever em braile, e uma máquina perkins de datilografia também em braile.
De acordo com a gestora da unidade, Mônica Pinheiro, trabalhar a inclusão significa a busca por desafios, de grandes realizações, mas acima de tudo, acreditar no potencial do aluno da educação especial. Ela reforça que o trabalho da unidade é facilitado pela cooperação com o CMEE André Vidal de Araújo.
“Temos uma parceria com o complexo e com a Gerência de Educação Especial (GEE). Essas instituições têm nos dado apoio, trazido para a gente assessoramento pedagógico, orientações e também parcerias em relação aos programas. Quando o nosso aluno precisa de algo a mais além de um trabalho pedagógico, a gente recorre ao CMEE e encaminha essa criança para o atendimento dos programas”, conclui Mônica.
Com vasta experiência na educação de alunos com baixa visão ou cegueira, o professor Vandi Piazza Freitas, explica que uma das principais ferramentas desse ensino, o Braille, foi criado pelo jovem Luís Braille após sofrer um acidente na oficina do pai.
“Aos 15 anos ele teve oportunidade de ter acesso a um sistema utilizado pelo exército francês. Então ele pegou esse sistema que era sonoro com combinação de pontos e traços e fez uma adaptação. E ele criou esse sistema que consiste na combinação de seis pontos em relevo”, pontuou.
Além do Braille, Vandi ressaltou outras ferramentas que são utilizadas por ele em suas aulas. “O soroban é o ábaco adaptado. Utilizado muito nos centros comerciais do Japão, da China. É um aparelho retangular onde a sua estrutura apresenta eixos. O soroban que nós utilizamos é pedagógico. Ele é constituído de 21 eixos, tem uma estrutura retangular em que é dividido por uma régua, que nós chamamos de numeração”, completou Vandi.
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Fotos – Eliton Santos /Semed
Texto – Alexandre Abreu / Semed
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