O deputado estadual Wilker Barreto (Cidadania) usou a tribuna da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) desta quarta-feira, 13, para comprovar que o colapso na saúde pública do Amazonas é resultado da má aplicação do dinheiro público e a falta de gestão por parte da Secretaria de Estado de Saúde (SES). O parlamentar revelou que o Complexo Hospitalar Zona Norte, que compreende o Hospital e Pronto-Socorro Delphina Aziz e a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Campos Sales, recebeu de 2022 até o presente momento, o repasse de R$ 420.477.818,93 milhões, mais que o dobro da soma dos investimentos destinados aos hospitais Dr. João Lúcio e 28 de Agosto, consideradas as duas maiores unidades hospitalares que oferecem atendimento em urgência e emergência no Estado.
Diante da tribuna, Wilker detalhou de forma didática que o HPS João Lúcio, localizado no bairro São José 1 e referência em neurologia e politraumas na região Norte, teve dotação orçamentária autorizada, de 2022 até o momento, de R$ 55.994.374,58 milhões. Já o 28 de Agosto, que fica no bairro Adrianópolis e que atende traumas ortopédicos, urologia e o único que possui um Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) no Norte do país, recebeu o aporte de R$ 94.920.952,75 milhões, também no mesmo período. Juntas, as duas unidades que concentram os maiores fluxos de atendimentos totalizam R$ 150.917.349,33 milhões em investimentos.
No entanto, Barreto evidenciou a malversação do dinheiro público na Saúde ao comparar o recurso destinado aos dois hospitais de grande porte com o total de repasses feitos ao Complexo hospitalar que abrange o Delphina Aziz e a UPA Campos Sales. Do ano passado até maio de 2023, o Governo pagou R$ 420.477.818,93 milhões à Organização Social (OS) Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Humano (INDSH), que gerencia as duas unidades. No entanto, o hospital Delphina Aziz não funciona como porta de entrada para urgência e emergência e realiza apenas atendimento de média e alta complexidade.
Para Barreto, a diferença de R$ 269.560.469,60 milhões na totalidade dos recursos destinados e a desconformidade na execução dos serviços ofertados nas três unidades hospitalares configura uma grave falta de gerenciamento dos recursos públicos por parte da SES.
“O João Lúcio e o 28 de Agosto, somados 2022 até a presente data, consumiram R$ 150 milhões do contribuinte, os dois maiores hospitais do Amazonas e eu nem preciso dizer que ambos recebem toda a carga de urgência e emergência do Amazonas. E o que mais indigna é que o Delphina custou até hoje R$ 420 milhões, um hospital que se você chegar com o seu filho nos braços, você não entra porque eles vão te encaminhar para as duas unidades”, afirmou Wilker.
Mortes
Para Barreto, a má aplicação dos recursos destinados à rede pública de saúde vem culminando, de forma indireta, em mortes de pacientes devido à ausência de investimentos para solucionar problemáticas enfrentadas pela população nos hospitais como falta de medicamentos, filas de espera de pacientes aguardando cirurgias, equipamentos quebrados, estruturas precárias, entre outros problemas.
“Afirmo aqui desta tribuna que, de forma indireta, pessoas estão morrendo por negligência e falta de gerenciamento dos investimentos da saúde. Não pode um hospital de um tamanho colossal funcionar como se fosse uma UBS (Unidade Básica de Saúde), porque para mim o Delphina comparado ao 28 de agosto, tem uma produção de uma UBS, de um SPA. Se nós tivéssemos resolvido todas as cirurgias eletivas, não estaríamos aqui discutindo, mas as filas cardíacas, cirurgias ortopédicas e de vesículas não andam”, ponderou o parlamentar.
Cobrança
Por fim, Wilker anunciou que irá formalizar um ofício solicitando o chamamento da pasta e dos diretores das três unidades hospitalares para fazer o cruzamento dos fluxos de atendimento. “Estou apresentando hoje um ofício para que possamos chamar a Secretaria de Saúde, o Delphina, 28 de Agosto e João Lúcio e vamos fazer o cruzamento de atividade. Quem ganha mais, tem que produzir mais, não é essa lógica do mercado, do dia a dia? Porque que o Delphina recebe mais que o 28 de Agosto e o João Lúcio juntos e produz bem menos? Se isso não for desperdício de dinheiro público, é o quê?”, questionou o parlamentar, que completou cobrando um posicionamento firme do Parlamento estadual diante do desperdício público na Saúde:
“Nós somos deputados estaduais e cabe a nós a responsabilidade de zelar pelo dinheiro do povo e integridade física e saúde da nossa população. O que estou querendo chamar atenção deste parlamento é que esses números demonstram que a gestão da saúde do Amazonas está equivocada, só que esses erros estão custando vidas. Se nós não fizermos o nosso papel de fiscalizar o dinheiro do povo, o parlamento estadual passa a concordar, de forma indireta, com o caos na saúde”.
Jornalista responsável: Nathália Silveira (92) 98157-3351
Texto: Dayson Valente