Mie cita a definição da Organização Mundial de Saúde (OMS) do uso racional de medicamentos como sendo aquele em que a pessoa recebe os remédios requeridos para suas condições clínicas em doses adequadas às suas necessidades individuais, por um período adequado e ao menor custo para si e para a comunidade. Como exemplo clássico do uso não racional, por outro lado, ela cita o caso de quem toma antimicrobianos, ou antibióticos, sem atenção à receita médica.Os remédios vêm ajudando a humanidade a viver mais e melhor há milhares de anos, mas seu uso excessivo ou indiscriminado também pode fazer mal à saúde. É o que alerta Mie Muroya Guimarães, farmacêutica da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), da Prefeitura de Manaus. Nesta sexta-feira, 5/5, Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, ela alerta as pessoas a seguir orientação profissional e evitar a automedicação, que traz riscos à saúde.
Favorecer o surgimento de bactérias resistentes a antibióticos é uma das consequências que fazem do uso inadequado de medicamentos uma questão de saúde pública. Um estudo científico global realizado no ano passado apontou que mais de 1,2 milhão de pessoas morreram em todo o mundo, em 2019, por infecções causadas por bactérias resistentes aos compostos hoje existentes.
“O uso inadequado ocorre quando a pessoa suspende, por conta própria, a utilização do remédio por se sentir melhor, ou quando não segue a posologia dada – por exemplo, a tomada de seis em seis horas. Pode se dar ainda com a automedicação, quando ela toma o remédio para uma situação viral. Essas situações acabam ocasionando a resistência aos medicamentos”, indica a farmacêutica.
“No contexto da saúde pública, é importante destacar ainda que o uso irracional pode ocasionar o aumento e o acúmulo de medicamentos nas residências, favorecendo o descarte inadequado e, consequentemente, a contaminação do solo e das águas fluviais”, diz.
A automedicação causa também danos diretos à saúde. Mie aponta que o uso abusivo ou inadequado de remédios é uma das principais causas de intoxicações no Brasil, conforme dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox). E ainda, um estudo do Conselho Federal de Farmácia indicou que, de 2010 a 2017, quase 299 mil dos pouco mais de 565 mil casos de intoxicação registrados no país foram causados por medicamentos.
Como estratégia de conscientização das pessoas acerca do uso adequado de medicamentos e dos riscos da automedicação, a Semsa tem investido no serviço de cuidado farmacêutico, tanto no incentivo à capacitação dos profissionais que atuam na rede de assistência quanto na recente nomeação de 45 farmacêuticos aprovados em concurso público.
Investindo no cuidado
“A Semsa também está participando do ambiente de apoio à implantação do cuidado farmacêutico na atenção básica, para promover a efetiva implantação desse serviço nas unidades da rede municipal de saúde”, enumera a farmacêutica.
Mie Muroya ressalta que a Prefeitura de Manaus investe, ainda, em um projeto de extensão envolvendo atividades de consulta e orientação farmacêutica e o desenvolvimento do plano de cuidado.
Promover o uso correto e ponderado de medicamentos passa pela conscientização de cada um acerca dos riscos e consequências da automedicação e da importância de se observar as orientações dos profissionais médicos e farmacêuticos.
Recomendações
“Não saia do consultório médico com dúvidas, do contrário procure um farmacêutico. Saiba para que serve cada medicamento que está utilizando. Use sempre nas doses, nos horários e pelo tempo recomendados, nunca altere as doses receitadas pelo seu médico”, orienta a farmacêutica.
Mie Muroya aponta uma série de recomendações e cuidados simples para tornar o uso de remédios mais seguro para quem busca manter ou recuperar a saúde. A primeira delas é escutar com atenção as recomendações médicas e entender o que é prescrito.
Mie alerta que o alívio dos sintomas não significa a cura da doença, portanto, não é motivo para descontinuar o tratamento. “Se você interromper o tratamento antes do prazo informado na receita, isso pode resultar em agravamento da doença. Caso apresente reações medicamentosas, procure uma unidade de saúde”.
A especialista da Semsa atenta ainda para o cuidado na manipulação e guarda dos medicamentos: “Não abra cápsulas nem quebre ou tente dividir comprimidos, principalmente os revestidos ou drágeas, pois isso pode inativar o princípio ativo do medicamento, que será destruído com o suco gástrico. Já os medicamentos líquidos não devem ser guardados ou utilizados posteriormente, pois podem ocorrer contaminações e agravar seu estado de saúde”.
“Os ditados populares que dizem que, se é natural, não faz mal, ou que, se bem não faz, mal também não, não são verdadeiros. Essas plantas possuem em sua composição várias substâncias que terão ação no organismo, promovendo ações que podem também ser tóxicas”, afirma.
Afora os produtos farmacêuticos, as plantas medicinais e fitoterápicas do jardim podem ser consumidas sem problemas, certo? Nada disso. Mie explica que os medicamentos naturais ainda são medicamentos, e seu uso requer cautela da mesma forma.
Campanha
Portanto, ao sinal de qualquer problema de saúde, deixe a caixinha de remédios de lado e procure primeiro uma Unidade Básica de Saúde (UBS) para receber o tratamento correto e adequado para o seu problema.
Promovida por órgãos públicos municipais e estaduais, instituições de ensino superior e parceiros institucionais, a campanha vai promover uma ampla programação com a oferta de serviços de saúde, ações educativas, exposições, apresentações culturais, entre outras.
Além da atuação regular em orientação farmacêutica, a Semsa irá participar da campanha de cuidados com medicamentos e riscos da automedicação, em alusão ao Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, nesta sexta-feira, das 17h às 21h, no estacionamento recuado do complexo turístico Ponta Negra, na zona Oeste.
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No evento, as equipes de Atenção Básica de saúde da Semsa vão apresentar o projeto Farmácia Viva, com a distribuição gratuita de plantas medicinais e orientação do público sobre o uso racional de fitoterápicos – remédios produzidos a partir de vegetais ou plantas medicinais com alguma ação terapêutica. A ação ocorre em parceria com a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Fotos – Divulgação / Semsa
Texto – Jony Clay Borges / Semsa