O projeto Vivência Arte na Mata, parte do Projeto Uxirana: artesanato caboclo, levou duas etapas práticas de campo à Floresta Nacional (FloNA) do Purus, reunindo mestres artesãos, comunidade local e pesquisadores. A iniciativa é contemplada pelo Edital da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB) e conta com apoio do Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Cultura e economia criativa, e do fundo estadual de Cultura.
Metodologia e foco das atividades
Idealizado pela mestre artesã Arlete Maciel, o projeto tem como eixo o estudo do processo tradicional de identificação, coleta, higienização e armazenamento das sementes utilizadas nas peças produzidas na escola de Arte e Saberes Florestais Jardim da Natureza, na comunidade Vila Céu do Mapiá. Nesta fase, as vivências focaram nas sementes da Uxirana (Vantanea parviflora) e do Marajá-Mirim (Bactris maraja).
Segundo Arlete, “As aulas começam pela teoria, nos livros, e seguem para a vivência prática para conhecerem o habitat, a fenologia e a estrutura morfológica das plantas”. “Quando começamos a trabalhar com a semente no artesanato, os alunos já estão conectados com toda a caracterização da paisagem”.
Conexão entre saberes e formação comunitária
Para a produtora executiva Bianca Squarisi, as vivências criam uma ponte entre oficineiros e mateiros da comunidade. “Essa parceria é essencial para o artesanato. É lá, na floresta, que todos aprendem a pensar sustentabilidade e a respeitar o ambiente”, afirma. As atividades reúnem alunos, mestres da cultura popular e visitantes inscritos.
As trilhas interpretativas contaram com a participação de especialistas, como o engenheiro florestal João Coutinho, diretor do manejo comunitário da FloNA do Purus. Ele observa que o espaço funciona como um “laboratório vivo”, agora reconhecido como escola Livre do Ministério da Cultura. “O importante das vivências é o somatório de conhecimento. Os jovens observam as espécies em seus habitats, entendem a associação entre plantas e identificam as relações ecológicas que favorecem o manejo responsável”, explica Coutinho.
“As peças produzidas revelam o valor da floresta em pé. O projeto Uxirana não fala só de artesanato, mas de preservação e das cadeias que mantêm a biodiversidade”, complementa.
Registro da fauna e levantamento científico
Durante uma das atividades, a equipe registrou pela primeira vez o pássaro Mãe-de-Lua (Urutal-ferrugem) na área do roçado geral da comunidade. O avistamento foi feito por Mariana Arruda, aluna do projeto e pesquisadora integrante do manejo florestal Comunitário da Vila Céu do Mapiá desde 2019.
Mariana participa do inventário da avifauna local, que já identificou 356 espécies de aves na Floresta Nacional do Purus. O trabalho resultou no livro “Passarinho Verde: aves da FLONA do Purus”, publicado com apoio do ICMBio e da Cooperar, e disponibilizado no SISBIO e na plataforma WikiAves.
educação ambiental, turismo e economia local
As vivências integram um projeto piloto da escola de Arte e Saberes Florestais voltado a formações profissionalizantes baseadas nas vocações locais. O objetivo é fortalecer o monitoramento ambiental participativo, estimular a educação ecológica e fomentar o turismo de observação de aves, em consonância com o Plano de Manejo da FloNA do Purus.
Combinando ciência, saber tradicional e prática sustentável, o Projeto Uxirana reforça o protagonismo comunitário e o papel das populações amazônicas na preservação da floresta e no desenvolvimento de cadeias produtivas responsáveis.
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