O veículo foi retirado do local com auxílio de três homens
Carros de passeio ficam atolados e caminhões trafegam com dificuldade em trecho do quilômetro 72 da rodovia AM-010, que liga Manaus a Itacoatiara (a 175 quilômetros de Manaus). Com as intensas chuvas registradas nos últimos meses na região e a falta de manutenção, os problemas estruturais da rodovia, que são antigos, foram agravados.
Nas redes sociais, o comerciante Walter Vital compartilhou, nesta quinta-feira (5), uma fotografia que mostra o carro dele atolado em trecho da AM-010. O veículo foi retirado do local com auxílio de três homens. “É um absurdo! Quem vai pagar meu prejuízo, seus representantes do povo? Meu carro não aguentou os obstáculos”, afirmou Walter.
O comerciante disse que atolamento ocorreu na quarta-feira (4) e que a caixa de marcha do veículo dele ficou danificada. Ele estima o prejuízo em R$ 3 mil. “Deu problema na caixa de marcha e no amortecedor. Não é a primeira vez que isso acontece. Já perdi dois carros com essa buraqueira. Sai e entra governador e é a mesma coisa. Um descaso”, disse Walter.
De acordo com o caminhoneiro Fellipe Maklouf, que transporta diariamente botijas de gás entre as duas cidades, a rodovia está tomada por buracos, mas o trecho no quilômetro 72 é o mais preocupante, pois, devido as grandes valas, há risco de o caminhão tombar. Fellipe também publicou nas redes sociais vídeo que mostra as condições da rodovia.
“Uma vergonha a situação da nossa AM-010. Uma estrada tão importante e os nossos representantes deixaram abandonada. Somente promessas. Até quando? Até um pai de família perder a vida ou o seu bem material”, disse o caminhoneiro.
Além de Walter e Fellipe, outros caminhoneiros e taxistas têm usado a internet para divulgar vídeos que mostram o descaso do poder público com a rodovia e para cobrar intervenções na via. Os vídeos mostram carros de passeio e caminhões atolados e enfrentando dificuldade para sair das valas nos trechos com condições precárias.
No dia 25 de abril, três caminhões ficaram atolados e interditaram completamente um trecho no quilômetro 72 da rodovia, o que gerou fila de veículos. Para prosseguir viagem, motoristas tiveram que buscar uma rota alternativa, adentrando uma área de campo de uma fazenda da região, mas acabaram destruindo o pasto e o proprietário proibiu a passagem pelo local.
Naquele mesmo dia, passageiros mostraram, em vídeo, que tiveram que descer do carro para que o taxista manobrasse com cuidado no trecho que continha a vala. Em um dos vídeos, um passageiro descreve a situação: “Os passageiros têm que descer do carro pra gente passar aqui. Está feio o negócio. Está horrível demais esse trecho”.
Barro
Em abril, na véspera do feriado da Semana Santa, com auxílio de um trator, taxistas e caminhoneiros usaram barro para tapar os buracos em alguns trechos da rodovia que estavam em condições precárias. A medida, no entanto, foi paliativa, pois as constantes chuvas na região nos últimos dias reabriram as valas na pista.
A ação foi mais um protesto contra a inércia do poder público diante da buraqueira na AM-010, que tem gerado acidentes, segundo taxistas.
As condições precárias da AM-010 tem afetado, principalmente, as empresas de ônibus e os taxistas, que usam a via para transportar passageiros de Rio Preto da Eva, Itacoatiara, Urucurituba, Silves, Itapiranga, São Sebastião do Uatumã e Urucará, e os produtores rurais, que usam a rodovia para escoamento da produção.
Com a buraqueira e falta de sinalização, o tempo de viagem de Manaus a Itapiranga (a 226 quilômetros de Manaus), por exemplo, foi ampliado em até duas horas para quem vai de táxi e até três horas para quem opta por viajar de ônibus. As informações são de passageiros e trabalhadores que transitam na rodovia ouvidos pela reportagem.
Manifestações
Neste ano, diversas manifestações foram realizadas por trabalhadores em razão das condições precárias da rodovia. No dia 10 de abril, moradores do Ramal Água Branca, no quilometro 31 da AM-010, interditaram trecho da via, o que gerou congestionamento de veículos. Eles pediam asfaltamento da estrada.
Em janeiro deste ano, taxistas e caminhoneiros também fecharam trecho rodovia em protesto. Naquela ocasião, o Governo do Amazonas informou que uma equipe da Seinfra (Secretaria de Estado de Infraestrutura) estava no local para conversar com os trabalhadores e que estava realizando trabalhos de recuperação e modernização da via.
Ainda naquele momento, o Governo do Amazonas informou que estava realizando, desde o mês de agosto de 2021, a modernização e reforma da AM-010,e que outras estradas municipais, no entorno, estavam no planejamento de ações para 2022 da Seinfra. O governo estadual disse que o período de chuva prejudica o andamento dos trabalhos.
Em 2021, o Governo do Amazonas assinou contrato com o Consórcio AM para as obras de reforma e modernização da rodovia, com valor global de R$ 366 milhões. A maior parte desse dinheiro (R$ 220 milhões) é decorrente de uma emenda do senador Omar Aziz (PSD) e o restante, de recursos próprios do Estado.
De acordo com o governo estadual, os serviços serão executados do quilômetro 13 ao 263,40 da rodovia e inclui a construção de um pavimento novo, implantação de acostamentos e novas sinalizações horizontal e vertical. Com cinco frentes de obras, o governo anunciou que pretende entregar a AM-010 totalmente modernizada até o final deste ano.
Investigação
Em março deste ano, O MPF (Ministério Público Federal) abriu inquérito civil para apurar se há irregularidades nas obras de reforma e modernização da rodovia. Em portaria publicada no diário eletrônico da instituição, o procurador da República Thiago Augusto Bueno considerou o que já havia apurado até aquele momento e a “necessidade de realização de diligências”.
O Portal da Transparência do Governo do Amazonas registra que o Consórcio AM recebeu já R$ 33,4 milhões. Somente no ano passado foram repassados R$ 10,9 milhões. Neste ano, as empresas faturaram R$ 3,5 milhões referente aos trabalhos realizados em 2021, e mais R$ 18,9 milhões em dois empenhos (um de R$ 9,2 milhões e outro de R$ 9,6 milhões).
A reportagem solicitou mais informações da Seinfra sobre o atual estágio das obras do Consórcio AM e sobre as medidas imediatas que estão sendo adotadas para amenizar os impactos dos trabalhadores que usam a rodovia, mas até a publicação desta matéria nenhuma resposta foi enviada.