Associação informa que impacto no custo das empresas é alto e reajuste da tarifa, inevitável
O aumento de 8,9% no preço do litro do óleo diesel nas refinarias, a partir desta terça-feira, representa um impacto imediato de 2,9%, em média, nas passagens de ônibus do transporte público de passageiros, informa a NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos).
Em Manaus, o preço da tarifa ao passageiro é R$ 3,80 desde 2017. A prefeitura paga R$ 1,50 de subsídio o que eleva o valor para R$ 5,30. O complemento custa R$ 13 milhões por mês ao contribuinte.
Este ano, o subsídio aumentou com a implantação do passe livre para estudantes das escolas públicas municipais e estaduais. O gasto será dividido com o governo do estado.
Segundo a Associação Nacional das Empresas, o diesel subiu 47% este ano. O impacto acumulado nas tarifas é de 15,4%. Ao considerar os valores dos últimos 12 meses (de junho/21 até maio/22), o diesel acumula uma alta de 80,9%, muito acima da inflação do período, o que representa um impacto na tarifa pública de 26,5% no último ano.
O combustível é o segundo maior custo do setor de transporte coletivo urbano por ônibus, segundo a Associação e corresponde a 32,8% no custo total do setor. Fica atrás somente do custo de mão de obra, que é de 50% em média.
A entidade reitera o alerta sobre os riscos de faltar ônibus para circular fora dos horários de pico, caso os sucessivos aumentos de custos não sejam compensados de alguma forma.
“Temos cidades que já fizeram seus reajustes tarifários anuais e outras que adotaram subsídios emergenciais ou permanentes, a situação varia. Mas a grande maioria dos operadores não têm fôlego financeiro para enfrentar mais esse reajuste e terão que suspender o serviço fora dos horários de pico”, afirma Francisco Christovam, presidente da Associação.
A maioria das empresas associadas – a entidade congrega mais de 400 operadoras de ônibus em todo o país –, está sem condições financeiras para fazer frente a mais um reajuste do diesel, informa Christovam.
A alternativa que resta às empresas é buscar socorro nas prefeituras, que são responsáveis pela gestão do serviço nas cidades brasileiras, ou nos governos estaduais, que respondem pelas regiões metropolitanas.
“Nesse caso, os governos só têm duas opções para evitar a ruptura nos serviços de transporte: ou repassam os aumentos para as tarifas que remuneram os operadores, conforme os contratos vigentes em cada local, ou subsidiam esse reajuste. As empresas de transporte coletivo urbano não são responsáveis por esses aumentos e não têm como arcar com esses custos. Estamos agora no modo de sobrevivência, tentando manter da melhor forma a oferta do serviço, que atende 43 milhões de brasileiros diariamente”, argumenta.
A redução da oferta vai variar caso a caso, segundo as condições de cada contrato, explica Christovam. “Quem não conseguir apoio do poder público e não tiver recursos será obrigado a cortar a frota. Dependerá da situação financeira de cada empresa neste momento”.
Para evitar essa escalada do diesel e consequente reajustes na tarifa, o presidente da entidade avalia que a solução seria a adoção de mecanismos para a estabilização dos preços dos combustíveis, que vão da reformulação da estrutura tributária incidente sobre o diesel à adoção de políticas de preços especiais para setores essenciais como o de transporte público.
“O consumo de diesel do transporte público por ônibus nas cidades e regiões metropolitanas é de apenas 5% a 6% do total do consumo nacional; ter uma política diferenciada para esse segmento não impactaria significativamente a política de preços dos combustíveis”, completa Christovam.
Uma alternativa seria a separação entre a tarifa pública, de utilização do ônibus, da tarifa técnica, ou de remuneração dos custos das operadoras, com a diferença sendo arcada pelo poder público. “Assim, os aumentos de custo decorrentes dos reajustes do diesel podem ser compensados sem onerar a tarifa do passageiro pagante, que já está excessivamente sacrificado com a alta da inflação”, explica Christovam.
Outras propostas seriam a adoção da desoneração de todos os tributos que incidem sobre os insumos utilizados pelo transporte público, que representam, somados, uma carga tributária de 35,6%, extremamente elevada por incidir sobre um serviço essencial utilizado principalmente pela população de menor renda.
Em segundo lugar, o uso da parte que cabe ao Governo Federal dos resultados gerados pela Petrobras para compensar o impacto da alta do diesel utilizado pelos serviços de transporte público. Só no ano passado, a Petrobras teve um lucro líquido recorde de R$ 106,6 bilhões, sendo que o Governo Federal tem uma participação de 36,7% nesse resultado – que tende a aumentar com esses novos reajustes de preços.
Somente no atual governo, os sucessivos lucros da Petrobras têm garantido à União, por meio da distribuição de resultados, mais de R$ 100 bilhões por ano.