mortalidade por aids no Amazonas foi analisada em um estudo recente que destacou aspectos cruciais como o perfil sociodemográfico dos óbitos, a evolução temporal e as distribuições espaciais da doença. A pesquisa foi respaldada pelo Governo do Amazonas, especificamente pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), através do Programa de Apoio à Iniciação Científica (Paic), e foi desenvolvida na Fundação de Vigilância em saúde do Amazonas – Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP).
O estudo, intitulado “Análise espacial e temporal da mortalidade por Aids no Amazonas: uma abordagem sobre iniquidades”, foi conduzido pela graduanda em Medicina da Universidade Nilton Lins, Kaísa Lindomara dos Santos Figueiredo. O trabalho se destacou na 10ª Jornada Científica da FVS-RCP, onde recebeu o 2º lugar, uma mostra da relevância da pesquisa acadêmica e reconhecimento pela contribuição científica.
Com a orientação de especialistas como o doutor em ciências Biológicas, Timoteo Tadashi Watanabe, e o doutor em Epidemiologia em saúde Pública, Daniel Barros de Castro, o estudo investigou não apenas a mortalidade, mas também os fatores individuais e sociais que se inter-relacionam com esse sério problema de saúde pública.
De acordo com Kaísa Figueiredo, “a pesquisa traz uma importante contribuição social ao evidenciar as desigualdades regionais e sociodemográficas que afetam a mortalidade por Aids no Amazonas”. A análise apontou para a necessidade de fortalecer políticas públicas, incluindo a descentralização dos serviços de saúde, a ampliação da testagem precoce e focar nas populações mais vulneráveis, que são as mais afetadas.
Durante o período de análise (2007 a 2023), foram registrados 3.829 óbitos por Aids em todo o estado. O estudo revelou duas tendências nítidas: entre 2007 e 2012, houve um aumento anual na taxa de mortalidade de 15,84%. A partir de 2012, no entanto, observou-se uma diminuição média de 7,32% ao ano, sinalizando uma queda sustentada no número de óbitos. Essa queda é uma notícia otimista, mas ainda há muito a ser feito para garantir que os números continuem a diminuir.
No âmbito da análise espacial, o estudo também revelou a interiorização dos óbitos, com um aumento alarmante em municípios mais afastados, como Tefé e as regiões do Baixo Solimões. Manaus, embora apresente um grande número de casos, viu uma diminuição nas taxas, enquanto em localidades como Parintins e Autazes a mortalidade continuou elevada.
O perfil das vítimas mostra que a maioria dos óbitos ocorreu em homens (73%), a população preta (90%), e jovens adultos entre 12 e 39 anos, com 82% dos casos ocorrendo na capital. A transmissão sexual foi a mais prevalente, representando 99% dos casos. Os fatores de risco indicados são variados, incluindo idade avançada, sexo masculino e o uso de drogas injetáveis, sendo que o diagnóstico em estágios avançados de Aids aumenta em 34 vezes o risco de morte.
Ciente da gravidade da situação, Kaísa Figueiredo enfatizou que “a luta contra a Aids vai além do diagnóstico e do tratamento. É preciso investir em educação e na redução do estigma, além de fortalecer as comunidades vulneráveis”. Essas abordagens são essenciais para uma resposta eficaz e holística à epidemia.
O estudo foi conduzido a partir de dados secundários do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinam) e do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), utilizando-se do modelo Joinpoint, mapas temáticos do software QGIS e técnicas de regressão logística multivariada. Essa análise integral possibilitou uma caracterização aprofundada dos óbitos e fatores associados.
A importância do apoio da Fapeam não PODE ser subestimada; conforme destacou Kaísa, “a bolsa de iniciação científica foi fundamental para a execução do projeto, permitindo acesso às bases de dados e fortalecendo minha formação acadêmica”. Esse suporte é vital para o desenvolvimento de pesquisas aplicadas à saúde pública no Amazonas.
Através do Paic/Fapeam, muitas oportunidades foram criadas ao longo dos anos, promovendo a formação de novos talentos e contribuindo significativamente para o avanço da ciência na região. Nos últimos 10 anos, foram realizadas 113 pesquisas por 105 bolsistas, mostrando o impacto positivo do programa na promoção de conhecimento e inovação.
O futuro da pesquisa científica no Amazonas parece promissor, e estudos como esse são cruciais para continuar a jornada de luta contra a Aids e outras doenças. O reconhecimento dos melhores trabalhos na jornada científica também sinaliza um incentivo à pesquisa e à qualidade acadêmica.
Conhecimento e ações efetivas serão essenciais para transformar os dados e números em melhorias significativas na saúde pública do Amazonas.